Na prática o que é saúde? Saúde é uma ausência de sintomas gerado pela ingestão de antibióticos? Saúde é o que se consegue quando se luta contra o fator patológico, mesmo que ele seja um “vento perverso†ou qualquer manifestação de “xie qiâ€. (qi do mal)
Na prática, acupuntura pertence a um domÃnio difÃcil de praticar por que com toda razão ele contém muitas variáveis e quero apenas considerar duas que aparecem com freqüência nos textos chineses. A questão do cultivo da saúde e do destino.
“Um médico de excelência cuida dos sintomas antes dele apareceremâ€
Ou seja, um terapeuta investe na saúde, na sua e das pessoas ao redor. A medicina chinesa é vasta e seu campo de atuação está entre duas dimensões importantes, o corpo grosseiro e o sutil, eles se interpenetram, mas não são a mesma coisa.
Assim, no caso a atuação sobre o campo sutil não podemos esquecer que faz toda a diferença a atitude mental, a capacidade de concentração, o Yi ou intenção do praticante na hora de inserir as agulhas. ( eu disse TODA A DIFERENÇA)
Um encontro clÃnico verdadeiro tem uma dimensão sagrada, pois se um encontro acontece, todos se curam, aprendem e seguem viagens mais confiantes. Eu gosto bastante de ler, mas meus professores na arte de curar são sempre os que me curaram: remédios, alimentos, amigos, agulhas, plantas, homeopatia e florais.
Funcionam pra mim e me colocam de volta no caminho. Essa noção de que as coisas têm um sentido, de que a vida tem alegria  e de que o tratamento pode te ajudar a conquistar isso não é o mesmo que tratar um sintoma. E à s vezes eu tenho a sensação de que essa dimensão da prática terapêutica com agulha e moxa é negligenciada em função de uma enormidade de técnicas, pontos e procedimentos analÃticos.
Como psicólogo eu sei o quanto uma palavra pode curar, como acupunturista que observa as sincronicidades ao redor eu sei o quanto tudo está ligado a tudo e que minha atitude na hora de inserir os pontos tem que ser trans-racional , para além da razão. Isso é infelizmente confundido como pré-racional, para aquém da razão, como se tudo que não é racional ou melhor, analÃtico, não é método confiável.
Com toda certeza criticar os reflexos Nova Era na prática da acupuntura como em todas as outras áreas é muito importante, mas não dá pra jogar fora no mesmo balde os tesouros preciosos dos grandes sábios iluminados do passado que abriram um campo de eficácia clÃnica muito além das possibilidades de sistematização mental da prática clÃnica.
Claro que consolidar uma base analÃtica é fundamental, é preciso estudar muito, isso é importantÃssimo, bases sólidas para analisar os casos clÃnicos é fundamental. Mas no campo sutil, bem como no campo fÃsico, o terreno continua sendo tudo o veneno não é nada, tratar os fatores de adoecimento sem considerar o paciente, o terreno onde o “mal†se instala é um extremo estúpido quanto achar que não existem doenças, só pessoas doentes. Doenças existem, bem como pessoas doentes.
Pasteur morreu reconhecendo que não eram as bactérias e vÃrus a questão central na saúde, mas o terreno. Assim como sabemos que na prática da acupuntura e da saúde pública, cada vez mais se sabe sim da importância de prevenir e cuidar e nesse caso, as variáveis são realmente muitas.
Se pudermos descobrir novos marcadores somáticos ligados à s sÃndromes energéticas chinesas vai ser ótimo, mas considerando o campo da nutrição, por exemplo, não conseguimos descobrir nada sobre o que faz bem ou faz mal e em geral nos alimentamos sem ter consciência do que fazemos.
O mesmo se dá com a prática da acupuntura orientada para o destino, Ming, cuidar não é apenas tratar sintomas, mas permitir que o sujeito encontre uma forma de viver mais saudável com o livre fluxo de qi de yin e yang. Essa posição em busca dessa condição essencial deve sempre orientar a prática clÃnica, por mais simples que possa parecer, não é.
AÃ, entra uma questão fundamental. Se o terapeuta não faz nenhuma prática de cultivo. Se não cuida da sua saúde, se não percebe os seus desequilÃbrios se não vive esse estilo de vida, como poderá perceber as desarmonias no outro. Apenas com análise racional de sinais e sintomas? Pra isso tem excelentes programas de computador, cada vez melhores!
Precisamos convocar então uma outra inteligência, que por falta de nome melhor, vou chamar de inteligência do destino ou do Dao, ou do caminho. A inteligência de quem se coloca num caminho de prática e pode sim transmitir aquela expressão do conhecimento tradicional que está para além dos livros, além da letra.
A letra não só é morta, mas também mata.
O espÃrito não só vivifica, mas também cuida da vida em geral.
Dedicado a todos os amigos da comunidade de acupuntura com quem sempre aprendo muito!