OS SISTEMAS DO AMOR E O AMOR DOS SISTEMAS

amantes de diamantes

Uma visão integral nos ensinou Wilber compõe de pelo menos 3 grandes perspectivas.

Uma de PRIMEIRA PESSOA, na qual o “EU” se dá conta de “si-no-mundo”, dos fenômenos da emergência e co-emergência do mundo.  Outra de SEGUNDA PESSOA, “VOCÊ”, “o outro”, que na co-emergência anterior já se torna um “NÓS”, uma possibilidade de pontes, uma possibilidade de contato comunicação do interior para esse espaço de comunhão e trocas, de “vida a dois”.

Além, podemos, com certo esforço, tentar ver a nós mesmos e as nossas relações de forma mais objetiva, TERCEIRA PESSOA, tal como um mapa da vida num ecossistema, mais planificada, mais sistemática, até mesmo encontrar na fisiologia e neurociências das relações dos mamíferos que somos também, pistas para entender das maturidades possíveis e dos desenvolvimentos possíveis para além dos hormônios e condicionamentos.

Considerar o sistema como relações que se revelam “no sistema”, podemos entender a dimensão de toda relação a dois, ou numa família, como reflexo de uma relação que envolve todos no mundo.

É incluindo essas perspectivas que podemos então, refletir e expandir nossas possibilidades de olhar de todos os lados, como faces de um diamantes, para as ordens do amor, das amizades, de nossos familiares, clientes, a com nossos grupos de trabalho. O que queremos incluir e o que precisamos ou o sistemas precisam excluir para transcender e incluir novamente em outro momento mais maduro.

A perspectiva integral inclui tudo, mas não acha que estamos todos absolutamente certos. Reconhecer que todas em nossas perspectivas são, ao mesmo tempo, certas e parciais. Inclusive a sua, a minha e a nossa.

Mas como isso interfere nas nossas relações? Como escrevemos em um blog, em tempos de leituras rápidas na internet, vou tentar sintetizar como melhor puder:

  1. A relação é uma relação sempre consigo mesmo – vemos o mundo como somos – a consequência disso é um narcisismo básico e fundamental, mas que se torna patológico quando não conseguimos ver a nós mesmos, quando o nosso espelho nos devolve uma visão distorcida e quando não conseguimos ver nossas sombras para seguir fazendo um trabalho para manter o Eu saudável. O Eu, como já sabemos, não é a única instância de realidade que estamos inseridos, mas como todas as outras, demanda trabalho.
    Exemplos de “trabalho” são: psicoterapia, meditação, registros pessoais em diários, práticas de integração de sombra, cuidados de si, um estilo de vida compatível com seus sistemas de crenças e uma boa dose de felicidade, sim, felicidade, uma medida razoável entre o que você sonha e o que você vive. Simples assim!
  2. O outro ou “o mistério” – uma relação com o outro é uma relação com o desconhecido, com os nossos medos, com nossos sonhos, com nossas projeções, conosco mesmo no outro e com o outro em nós, mas esse espaço infinito de abertura que chamamos amor… Não é possível crescer sozinho, não é possível evoluir sozinho, não é possível aprender sozinho, a gente faz isso no encontro. Sempre. Fazemos isso com a ajuda do outro tem, na minha experiência clínica e afetiva, duas condições fundamentais que é sustentar uma escuta acolhedora como exercício permanente de compaixão e se manter disposto a seguir aprendendo e transformando, disposto a crescer.Tudo em contrário é esclerose, perda de movimento, estagnação e adoecimento. Também parece simples? Quero incluir mais um elemento fundamental nessa balança, que é o equilíbrio do dar e receber, numa relação, aliás, não só com o outro, mas com qualquer sistema, (à exceção da relação entre pais e filhos e professores-alunos) é fundamental um equilíbrio saudável ao mesmo tempo homeostático e estimulante da relação. Qualquer relação em que um desequilíbrio se estabelece é uma relação que gera ressentimento, que mata e faz morrer. Exemplos de cuidados com a relação é manter ela abeta à novas idéias, às trocas  e compartilhar idéias, aprender juntos e com outros grupos e pessoas, trocar talentos, estabelecer na relação um espaço de cuidado e devoluções, de feedback sincero e compassivo com a intenção de libertar e clarear com o outro todo sofrimento, mesmo que esse sofrimento esteja, como muitas e tantas vezes está, na própria relação.
  3. A terceira dimensão, a dimensão objetiva das relações considera a relação, superior aos indivíduos, pois transcende e inclui os indivíduos. Como os benefícios de estar juntos são muito maiores do que estar só (autoevidente, mas você pode chegar os níveis de serotonina também!). Isto porque as nossas relações são nosso principal espaço de prática e crescimento, que faz com que a atitude ética possível seja a de preservar a relação, cuidar da relação, para o presente e o futuro, mais importante do que suprir as carências e infantilidades emergentes. Sujar uma relação seja amorosa ou de amizade é sempre uma perda para todos. Desenvolver essa visão em conjunto parece ser uma capacidade rara, pois raramente conseguimos entender essa saúde de nós-dois, como sendo mais importante, e ainda assim, considerando o sistema em que nos inserimos, a saúde de cada um e de TODOS os implicados. Isso se dá não apenas nas relações amorosas do casal, célula básica dos sistemas, mas em todas as nossas amizades. Assim, uma amizade sincera, coisa rara nesse mundo, deve ser sempre protegida dos desatinos momentâneos.

Exemplificando, na prática, saber onde é nosso lugar, onde estamos para que todos sintam-se mais livres e mais à vontade, sentir e intuir o movimento mais saudável para todos é um exercício muito poderoso e urgente para compreender que sofremos as dores de TODOS, é assim que é.  E quando nos curamos, quando cuidamos dos mais próximos, curamos também os mais distantes. Quando acolhemos o nosso sofrimento em nosso coração, curamos todos ao redor, na rede. Assim, tal como uma onda que repercute nas infinitas redes e direções, curamos o MUNDO que somos.


Se começamos afirmando que vemos tal como somos, terminamos por dizer que somos tal como vemos, que o mundo que experimentando e todas as suas sombras, são as sombras das nossas contradições. Isso nos dá uma implicação ética enorme que é:

Quer cuidar do mundo? Cuida do teu coração.

Quer cuidar das florestas do mundo? Cuida de libertar seu pulmão de toda tristeza guardada pra dar valor ao ar que respiramos. Quer cuidar das crianças do mundo? Cuida para que criança que te habita seja ainda sorridente e disposta a levantar depois dos tombos naturais das escadarias da evolução.

E principalmente, quer cuidar para que a ordem do amor flua em sua família e em suas relações, cuida das relações e veja como tudo está ligado a tudo e somos todo “nós” uma linha tênue e fina no espaço e na rede do kosmos, onde cada “curtir” é uma semente que plantamos, cada link que fazemos tece uma rede de luz ou sombra.

E você, já cuidou do seu coração hoje? Eu-tu, nós, o mundo e os seus e meus, agradecemos em uníssono.

Mário Fialho é também psicoterapeuta e co-ordena a constelação familiar sistêmica na multiversidade.com

About The Author

Mario Fialho

Mário Fialho é pai do Miguel Luz, professor na multiversidade, clínica e escola em Niterói. Vive dedicado a escrever, ensinar e a cuidar de tudo que é bom, belo e verdadeiro com simplicidade. E agradece a sua visita.