Relacionamentos e evolução

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ImagoDei – óleo sobre tela Mário Fialho

Relacionamentos, encontros foram na minha experiência sempre extremamente transformadores. Um analista junguiano certe vez, ao relatar a força de uma relação e a postura de uma parceira em terapia me afirmou: Que anima poderosa.

Ele se referia a função psíquica que Jung atribui como uma força integradora e transformadora em direação ao self no psiquismo feminino.

Realmente eu tive muitas experiências de amor a primeira vista, alguns duraram mais outros menos. Não quero entrar na discussão do que seria de fato esse amor a primeira vista. Se projeção da anima ou qualquer outro modelo neuroquímico que explique o amor.

O fato é que relacionamentos podem nos levar a suportar conteúdos inconscientes e transcendentes que não podemos ou não temos a coragem de suportar sozinho. E nesse sentido, a melhor coisa que pode nos acontecer é chegar ao fim de uma relação. E o motivo de celebrar o fim de uma relação ou um ciclo de crescimento é mesmo ter que lidar com o impacto dessa amplificação de consciência que uma relação nos deixa.

Claro, não são todas as relações que nos provocam isso, e falo principalmente da minha experiência, embora a própria vida de Jung seja um testemunho dessa questão.

Quando uma relação se desfaz, principalmente as que nos levam além de nós mesmos. Somos convocados a percorrer e integrar todos aqueles aspectos (projetado ou não) na relação que passou.

E muito comum hoje com tantos discursos feministas e machistas de um lado e de outro, encontrarmos uma possibilidade integral num relacionamento. Como em tantas outras áreas da vida estamos acelerando demais nosso crescimento e formas de contato para estabilizar algo por muito tempo.

Quando jovem estudante de direito, eu me imaginava correndo, estudando, passando num concurso e me estabilizando aos 30. Mas que desgraça é achar que a vida cresce para chegar a um platô aos 30 anos e fico feliz de ter vivido tantas intensidades afetivas que me movem sempre adiante e não me deixa parar. Que alegria poder reconhecer isso com a lucidez que me assalta agora.

Eu me sinto hoje em dia mais feliz e integrado do que em qualquer outro momento na minha vida e sou muito grato a todos os encontros e desencontros que tive, principalmente as despedidas abruptas que me convocaram ao encontro comigo mesmo ainda mais radical.

Claro, que como em qualquer crise podemos ter duas atitudes básicas: Ou nos tornarmos amargos e ressentidos, culpando narcisisticamente outros por tudo, ou podemos nos responsabilizar por todas as nossas escolhas. Eu prefiro a segunda opção, mas percebo que nem sempre se consegue.

Então, como um relacionamento evolutivo, o encontro clínico é assim também. Uma possibilidade de ir além de nós mesmos com ênfase, no caso da clínica que pratico, de assumir responsabilidade radical pela nossa existência.

About The Author

Mario Fialho

Mário Fialho é pai do Miguel Luz, professor na multiversidade, clínica e escola em Niterói. Vive dedicado a escrever, ensinar e a cuidar de tudo que é bom, belo e verdadeiro com simplicidade. E agradece a sua visita.